Por que ser médico?
Quando pensamos no profissão de médico, devería nos vir a mente a idéia de alguém que se preocupa com a vida humana, que a coloca acima de tudo, em alguns casos, inclusive, acima da sua própria vida, e que coloca valores materiais em segundo lugar. Mas, pelo que podemos notar, esse não sendo o intuido de muitos dos que seguem, ou pretendem, seguir essa carreira.
Se olharmos mais atentamente para os estudante de ensino médio que escolhem fazer vestibular para medicina, o fazem, insentivados muitas vezes pela família, para que sejam bem sucedidos financeira e, principalmente, para que tenham seus filhos chamados de "doutores". Ou seja, os interesses financeiros e de vaidade são colocados acima do de ser um bom profissional e tenha o fundamental sentimento que deveria ter todo médico: ajudar a todos.
Nas faculdades de medicina, só se vê festas regadas a muita bebida alcoolica e trotes violentos. Quem cursa uma faculdade de medicina, que tem o intuito de cuidar de vidas, tem que ser controlado, equilibrado. Como pessoas que se embebedam podem cuidar dos outros?
A saúde virou um comércio. Os planos de saúde dominam. Estes financiam a candidatura de deputados e senadores que defendam suas causas no parlamento. Os planos privados de saúde fazem lobby junto aos parlamentares para que os favoreçam na elaboração de leis (e sujeitos que aparecem em alguns programas, como no Amaury Jr., que defendem a legalização do lobbysta para causas privadas.) Um parlamentar que recebe apoio de um grupo privado de saúde irá aprovar projetos ou aumentar o orçamento destinado a saúde pública? Acho difícil...
Para entrar numa fila de transplantes tem que ser pagas e ainda, certos tipos de cirurgias são realizadas por médicos e clínicas particulares, que cobram, em alguns casos, R$ 20 mil, R$ 50 mil . Os hospitais públicos não estão equipados adequadamente. A maioria dos médicos particulares cobram consultas caríssimas para a realidade do nosso país, e atendem rápido, já pensando no dinheiro da próxima consulta. Passam remédios sem se preocuparem se estes podem criar efeitos colaterais sérios. E para questionar um erro médico, seja na hora de receitar um medicamento ou num procedimento operatório? Como questioná-los? Como reclamá-los? Primeiramente, o espírito corporativista dos médicos é muito forte. Um médico não fala de um erro de um colega ou de um remédio. Para eles é mais fácil dizer que o paciente não se cuidou ou que as pessoas que o cuidaram não foi de forma adequada. Para se fazer um processo contra um erro médico, é preciso do laudo de um outro médico, e como disse que um não fala mau do outro, ficamos reféns de muitos mercenários que praticam a medicina e a espera da sorte de algum médico sério, realmente preocupado com a vida das pessoas.
Na minha opinião, a profissão de médico é a mais sagrada que existe. A vida é tão rara, tão improvável no Universo, que devemos cuidar dela. E é nas mãos dos médicos que se encontram nossas vidas. Os médicos devem ser valorizados sim. Mas é que nessa profissão não pode haver vaidade nem ganância.
A seguir, está a "Oração dos Médicos" de autoria atribuída a um grande médico e filósofo medieval, Maimonides, a quem admiro por muitas de suas práticas e ensinamentos:
"Ó D’us, Tu formaste o corpo do homem com infinita bondade; Tu reuniste nele inumeráveis forças que trabalham incessantemente como tantos instrumentos, de modo a preservar em sua integridade esta linda casa que contém sua alma imortal, e estas forças agem com toda a ordem, concordância e harmonia imagináveis. Porém se a fraqueza ou paixão violenta perturba esta harmonia, estas forças agem umas contra as outras e o corpo retorna ao pó de onde veio. Tu
enviaste ao homem Teus mensageiros, as doenças que anunciam a aproximação do perigo, e ordenas que ele se prepare para superá-las.
"A Eterna Providência designou-me para cuidar da vida e da saúde de Tuas criaturas. Que o amor à minha arte aja em mim o tempo todo, que nunca a avareza, a mesquinhez, nem a sede pela glória ou por uma grande reputação estejam em minha mente; pois, inimigos da verdade e da filantropia, ele poderiam facilmente enganar-me e fazer-me esquecer meu elevado objetivo de fazer o bem a teus filhos.
"Concede-me força de coração e de mente, para que ambos possam estar prontos a servir os ricos e os pobres, os bons e os perversos, amigos e inimigos, e que eu jamais enxergue num paciente algo além de um irmão que sofre. Se médicos mais instruídos que eu desejarem me aconselhar, inspira-me com confiança e obediência para reconhecê-los, pois notável é o estudo da ciência. A ninguém é dado ver por si mesmo tudo aquilo que os outros vêem.
"Que eu seja moderado em tudo, exceto no conhecimento desta ciência; quanto a isso, que eu seja insaciável; concede-me a força e a oportunidade de sempre corrigir o que já adquiri, sempre para ampliar seu domínio; pois o conhecimento é ilimitado e o espírito do homem também pode se ampliar infinitamente, todos os dias, para enriquecer-se com novas aquisições. Hoje ele pode descobrir seus erros de ontem, e amanhã pode obter nova luz sobre aquilo que pensa hoje sobre si mesmo.
"D’us, Tu me designaste para cuidar da vida e da morte de Tua criatura: aqui estou, pronto para
minha vocação."
(Oração do Médico, Moisés Maimonides)