domingo, 21 de setembro de 2008

Por que ser médico?

Por que ser médico?



Quando pensamos no profissão de médico, devería nos vir a mente a idéia de alguém que se preocupa com a vida humana, que a coloca acima de tudo, em alguns casos, inclusive, acima da sua própria vida, e que coloca valores materiais em segundo lugar. Mas, pelo que podemos notar, esse não sendo o intuido de muitos dos que seguem, ou pretendem, seguir essa carreira.

Se olharmos mais atentamente para os estudante de ensino médio que escolhem fazer vestibular para medicina, o fazem, insentivados muitas vezes pela família, para que sejam bem sucedidos financeira e, principalmente, para que tenham seus filhos chamados de "doutores". Ou seja, os interesses financeiros e de vaidade são colocados acima do de ser um bom profissional e tenha o fundamental sentimento que deveria ter todo médico: ajudar a todos.

Nas faculdades de medicina, só se vê festas regadas a muita bebida alcoolica e trotes violentos. Quem cursa uma faculdade de medicina, que tem o intuito de cuidar de vidas, tem que ser controlado, equilibrado. Como pessoas que se embebedam podem cuidar dos outros?

A saúde virou um comércio. Os planos de saúde dominam. Estes financiam a candidatura de deputados e senadores que defendam suas causas no parlamento. Os planos privados de saúde fazem lobby junto aos parlamentares para que os favoreçam na elaboração de leis (e sujeitos que aparecem em alguns programas, como no Amaury Jr., que defendem a legalização do lobbysta para causas privadas.) Um parlamentar que recebe apoio de um grupo privado de saúde irá aprovar projetos ou aumentar o orçamento destinado a saúde pública? Acho difícil...

Para entrar numa fila de transplantes tem que ser pagas e ainda, certos tipos de cirurgias são realizadas por médicos e clínicas particulares, que cobram, em alguns casos, R$ 20 mil, R$ 50 mil . Os hospitais públicos não estão equipados adequadamente. A maioria dos médicos particulares cobram consultas caríssimas para a realidade do nosso país, e atendem rápido, já pensando no dinheiro da próxima consulta. Passam remédios sem se preocuparem se estes podem criar efeitos colaterais sérios. E para questionar um erro médico, seja na hora de receitar um medicamento ou num procedimento operatório? Como questioná-los? Como reclamá-los? Primeiramente, o espírito corporativista dos médicos é muito forte. Um médico não fala de um erro de um colega ou de um remédio. Para eles é mais fácil dizer que o paciente não se cuidou ou que as pessoas que o cuidaram não foi de forma adequada. Para se fazer um processo contra um erro médico, é preciso do laudo de um outro médico, e como disse que um não fala mau do outro, ficamos reféns de muitos mercenários que praticam a medicina e a espera da sorte de algum médico sério, realmente preocupado com a vida das pessoas.

Na minha opinião, a profissão de médico é a mais sagrada que existe. A vida é tão rara, tão improvável no Universo, que devemos cuidar dela. E é nas mãos dos médicos que se encontram nossas vidas. Os médicos devem ser valorizados sim. Mas é que nessa profissão não pode haver vaidade nem ganância.

A seguir, está a "Oração dos Médicos" de autoria atribuída a um grande médico e filósofo medieval, Maimonides, a quem admiro por muitas de suas práticas e ensinamentos:

"Ó D’us, Tu formaste o corpo do homem com infinita bondade; Tu reuniste nele inumeráveis forças que trabalham incessantemente como tantos instrumentos, de modo a preservar em sua integridade esta linda casa que contém sua alma imortal, e estas forças agem com toda a ordem, concordância e harmonia imagináveis. Porém se a fraqueza ou paixão violenta perturba esta harmonia, estas forças agem umas contra as outras e o corpo retorna ao pó de onde veio. Tu
enviaste ao homem Teus mensageiros, as doenças que anunciam a aproximação do perigo, e ordenas que ele se prepare para superá-las.

"A Eterna Providência designou-me para cuidar da vida e da saúde de Tuas criaturas. Que o amor à minha arte aja em mim o tempo todo, que nunca a avareza, a mesquinhez, nem a sede pela glória ou por uma grande reputação estejam em minha mente; pois, inimigos da verdade e da filantropia, ele poderiam facilmente enganar-me e fazer-me esquecer meu elevado objetivo de fazer o bem a teus filhos.

"Concede-me força de coração e de mente, para que ambos possam estar prontos a servir os ricos e os pobres, os bons e os perversos, amigos e inimigos, e que eu jamais enxergue num paciente algo além de um irmão que sofre. Se médicos mais instruídos que eu desejarem me aconselhar, inspira-me com confiança e obediência para reconhecê-los, pois notável é o estudo da ciência. A ninguém é dado ver por si mesmo tudo aquilo que os outros vêem.

"Que eu seja moderado em tudo, exceto no conhecimento desta ciência; quanto a isso, que eu seja insaciável; concede-me a força e a oportunidade de sempre corrigir o que já adquiri, sempre para ampliar seu domínio; pois o conhecimento é ilimitado e o espírito do homem também pode se ampliar infinitamente, todos os dias, para enriquecer-se com novas aquisições. Hoje ele pode descobrir seus erros de ontem, e amanhã pode obter nova luz sobre aquilo que pensa hoje sobre si mesmo.

"D’us, Tu me designaste para cuidar da vida e da morte de Tua criatura: aqui estou, pronto para
minha vocação."
(Oração do Médico, Moisés Maimonides)

Visões místicas

Visões místicas



Em todos os lugares e em todas as épocas, aparecem relatos de pessoas sobre visões místicas, ou proféticas, parecendo revelações ou contatos com a divindade. Vou expor alguns casos e fazer algumas observações importantes.



Visões de católicos

No mundo cristão católico, aparecem muitíssimos casos de "aparições" e "revelações" de Jesus, Nossa Senhora e outros santos. Em Portugal, por exemplo, três crianças tiveram a visão de Nossa Senhora, Maria, mãe de Jesus. Nesse encontro, Maria teria revelado às crianças que era preciso orar muito para salvar a humanidade, rezar muitas vezes o terço. E que revelou à Lúcia, que era uma das crianças, alguns eventos futuros do mundo e lhe fez, também, uma descrição do que seria o inferno, onde as almas dos incrédulos e malvados iriam. O inferno, segundo tal revelação, é um lugar quente e de tormento inferno.

Para citar mais um caso, uma freira sonhou com uma irmã dela que já havia falecido e, segundo ela, quando era vivia não frequentava a igreja e era promíscua. No sonho dessa freira, a irmã lhe disse que estava no inferno, que era um tormento imenso, insuportável, e que se arrepende que ao longo da vida não tenha frequentado a igreja.

Existem milhões de relatos como os que eu citei acima: Visões de Nossa Senhora (Lourdes, Fátima, Madjugore, entre outras) e visões do inferno.



Visões em outras religiões

Não só entre os católicos que aparecem tais relatos. No Islã, visões sobre o profeta Maomé aparecem frequentemente. Entre os cabalistas judeus, visões sobre o profeta Elias, o patriarca Abraham e Moisés e, com a Torah. Os budistas têm visões, sonhos com Sidartha Gautama ( o Buda ). Os hindus com suas divindades (Brahma, Shiva, Vishnu).

Ou seja, em todas as culturas aparecem relatos de aparições e revelações místicas.



O que podemos questionar?

É interessante notar que, quando se questiona a pessoa que teve a "visão profética ou mística", se tal é autêntica e genuína em relação a uma verdade revelada pela divindade, elas respondem afirmativamente. E ainda mais: que as visões em seus círculos religiosos (católico, judeu, budista) é verdadeiro e que o relato de visões de outras culturas são alucinações desprovidas de nexo e coerência e não condizem com a realidade. Engraçado que, para os católicos é natural Maria aparecer à três crianças num vilarejo em Portugal e um absurdo Buda aparecer para monges. Ou seja, cada um "puxa a sardinha para o seu lado", validando as que interessam e descartando outras.

Alguns questionamentos pertinentes àqueles que acreditam em tais visões são:

-Podemos reparar que as aparições de Maria são sempre em AMBIENTES CATÓLICOS. Por que ela não aparece num local onde há judeus ou muçulmanos? Já que ela quer enviar uma mensagem de paz ao mundo, acho que ela deveria enviar tal pedido ao mundo inteiro, e não alguns. E ainda mais: seria interessante que ela aparecesse em meios não-católicos para que levasse mais pessoas ao conhecimento da "verdade".

-Por que católicos não tem visões com Buda? E budistas não têm visões com Jesus e Nossa Senhora? E os judeus não têm visões com Maomé?



Algumas respostas

Gershom Scholem, um dos maiores estudiosos das correntes místicas do judaísmo, tem uma explicação para os questionamentos que expus acima. Com muita sensatez, em seu A CABALA E SEU SIMBOLISMO, ele escreve:

"O caráter conservador, tão frequente no misticismo, depende largamente de dois elementos: a própria educação do místico e seu guia espiritual. (...) Quanto à educação do místico, ele quase sempre carrega dentro de si uma herança antiga. Ele cresceu dentro do quadro de uma autoridade religiosa reconhecida e, mesmo quando começa a olhar independentemente para as coisas e procurar seu próprio caminho, todo o seu pensar, e especialmente sua imaginação, continuam permeados de elementos tradicionais. Ele não pode deitar fora facilmente a herança de seus pais, e nem mesmo tenta fazê-lo. Por que é que um místico cristão sempre tem visões cristãs, e não as de um budista? Por que é que um budista sempre vê as figuras do seu próprio panteão e não, por exemplo, Jesus ou Madona? Por que é que um cabalista, em busca da iluminação, se encontra com o profeta Elias e não com a figura de um mundo estranho? A resposta é, evidentemente, que a expressão da experiência de um místico é por ele mesmo transposta para a símbolos do seu próprio mundo; e isto ocorre mesmo que os objetos destas experiências sejam essencialmente iguais e não, como gostam de supor alguns estudiosos do misticismo, sobretudo católicos, fundamentalmente diferentes. Embora reconhecendo diferentes graus e estádios de experiência mística, e um número ainda mais variado de possibilidades de interpretação, um não-católico tende a ser extremamente cético para com as repetidas tentativas feitas por católicos dentro da linha de sua doutrina no sentido de demonstrar que as experiências místicas das várias religiões repousam sobre fundamentalmente inteiramente diversos." (A cabala e seu simbolismo, Gershom Scholem, pag. 24)

" expressão da experiência de um místico é por ele mesmo transposta para a símbolos do seu próprio mundo". Muito correto o afirmado por Scholem. Por isso podemos explicar os casos que citei logo no início do tópico. Três crianças, imersas num ambiente católico, criadas, influenciadas sobre conceitos de Maria, como uma mulher resplendorosa, com aspecto suáve, favoreceu a visão dos jovens. E sobre a freira que recebeu a carta do inferno? Ao longo de toda a sua vida, inculcada sobre a existência e o medo de ir ao "fogo infernal", logicamente iria sonhar com o inferno. E ainda mais para passar a mensagem de que a irmã foi para o inferno pois não frequentava a igreja. No caso, essa freira vive num quadro de uma autoridade religiosa reconhecida, a Igreja Católica, que diz que quem não frequenta a sua Igreja irá para o inferno.