domingo, 16 de setembro de 2007

Maimônides, Doutor das Perplexidades


MAIMÔNIDES, DOUTOR DAS PERPLEXIDADES

1)Vida
No decorrer da história, houve alguns pensadores cuja influência sobre as gerações que os
sucederam continua evidente até os dias de hoje.
Rabi Moshê ben Maimon (Maimônides) ou simplesmente Rambam como é mais conhecido, foi
uma destas figuras.
Maimônides nasceu em 1135, na cidade de Córdoba, na Espanha, então sob domínio muçulmano.
A cidade era um grande centro cultural, onde muçulmanos, judeus e cristãos conviviam e participavam ativamente da vida pública.
Em 1148, no entanto, foi tomada pelos Almohads, que pregavam a restauração da fé pura
Islâmica. Os judeus que não se converteram foram expulsos. Rabi Maimon, pai de Maimônides e líder da comunidade judaica de Córdova, levou sua família de cidade em cidade no sul da
Espanha durante a próxima década, à medida que os Almorávidas gradualmente varriam o país.
Os comentários de Maimônides sobre os dois Talmud, o de Jerusalém e o da Babilônia, bem
como seus primeiros tratados, foram compostos durante aqueles anos de perseguição.
Em 1159 chegaram a Fez, Marrocos, onde permaneceram por cinco anos. Maimônides estudou
medicina e Torá durante este período, onde também compilou a maior parte de seu trabalho para o comentário da Mishná. Trabalhando às vezes sob condições difíceis, ele era com freqüência forçado a trabalhar de memória, condensando e esclarecendo as longas explicações talmúdicas da Mishná, sem ter o texto à sua frente.
Em 1164, a perseguição religiosa forçou a família a sair também de Fez. Após passarem pela
Terra Santa, Rabi Maimon e sua família chegaram a Fostad, no Egito (antigo Cairo) em 1166, o
ano do falecimento de Rabi Maimon. Durante os cinco anos que se seguiram, a família foi
sustentada pelo irmão de Maimônides, David, permitindo que Maimônides começasse a trabalhar em sua obra Mishnê Torá. Em 1171, no entanto, David morreu num naufrágio, e Maimônides passou a exercer a medicina como forma de sustentar a família. Foi nesta conjuntura que ele deu início àquilo que mais tarde se tornaria uma carreira de sucesso como médico, chegando a servir como médico pessoal do Grande Vizir Alfadhil e do Sultão Saladin.
Por volta de 1177, as obras eruditas de Maimônides tinham se tornado tão respeitadas que foi
convidado a ser Rabino Chefe do Cairo, uma comunidade judaica grande e influente. Apesar
dessas responsabilidades, ele completou a Mishnê Torá logo depois e, dez anos mais tarde, seu
Guia para os Perplexos.
Maimônides faleceu em 1204, em Fostat, e foi enterrado em Tiberíades, Israel.
2)'Descanso' atribuído a D'us
Em Gênesis 2, 2 está escrito: “...e descansou ao sétimo dia.” onde a palavra para cessar (ou descansar) é shabat. O Rambam cita no 'Guia' uma passagem do Bereshit Rabbá, no qual os doutores dizem: 'Ao sétimo dia fez descansar o seu universo, ou seja, a criação se deteve naquele dia. E o Rambam explica o que significam estas palavras: Que Deus fez permanecer o Universo como estava no sétimo dia. O que aconteceu em cada um dos seis dias sucederam-se feitos fora da natureza, como está estabelecido e existe agora em todo o Universo. Mas no sétimo dia tudo se consolidou e tomou a atual estabilidade. Em outras palavras: sobrevieram acontecimentos extraordinários, que de nenhum modo estavam de acordo com as leis da natureza, tais como elas nos aparecem na Criação acabada, pois essas leis ainda não estavam estabelecidas.(Guia dos perplexos Tomo I capítulo LXVII) .
3) D'us não tem tamanho nem movimento.
Tudo que se move é , indubitavelmente, tem um certo tamanho e é divisível. D'us não tem tamanho e, portanto, não tem movimento. Tão pouco atribuír-Lhe o repouso, pois é condição que haja repouso algo que tenha possibilidade de movimento. Na visão de Tomás de Aquino, D'us é imóvel. O Rambam diz que, todas as palavras que indicam as diferentes espécies de movimento dos animais se há aplicado, como na linguagem do vulgo, como atributos de D'us, o mesmo que lhe atribui a vida, pois o movimento é um acidente inerente ao ser animado, e não há dúvida de que se exclui a corporidade se exclui as idéias de baixar, subir, andar, estar de pé, parar entre outras. Onkelos, ao fazer a versão caldaica para a Torah, usou perifrases para evitar os antropomorfismos relativos ao movimento. Em Exodo( XIX, 11) que diz "o S'nhor baixará..." Onkelos traduziu "o S'nhor se manifestou".O comentário árabe de Abu Ali fala sobre a manifestação de D'us sobre o Sinai (Exodo, XIX, 20): " De fato, é inadmissível que se trate aqui do Criador, que não é suscetível nem de ser definido nem qualificado, que não poderia ser compreendido no espaço. Mais ainda, não se pode dizer que Ele está no mundo, nem que está fora do mundo; pois semelhantes qualificações são convenientes às criaturas incluídas no espaço e acessíveis ao movimento. Sendo isto, és indubitavel que com as palavras 'E o Eterno desceu...' não se indica uma coisa creada e limitada e sua presença local sobre a montanha."No Bereshit Rabbá está escrito: "D'us é a morada do mundo, mas o mundo não é a sua morada." (Bereshit Rabbá, seção 68).
3)Bereshit (Genesis)

Maimônides fala no 'Guia dos Perplexos' sobre o Gênesis:O livro de Gênesis não deve ser interpretado ao 'pé da letra'. O relato da Criação é contado em parábolas que se interpretado literalmente, segundo Maimônides, levaremos a uma corrupção do verdadeiro sentido do texto e somos levados para irreligião.

Maimônides afirma a Criação ex-nihilo (criação do nada), contra argumentando os peripatéticos (seguidores das idéias de Aristóteles) que defendiam a eternidade do mundo.Segundo Maimônides o Universo não foi criado num determinado tempo, pois o próprio tempo foi criado. Então, na sua visão, não existe um tempo real, como o conhecemos, antes da criação, e sim um tempo imaginário. Ele também afirma que o espaço também foi criado. Deus criou o espaço e o tempo. Essas idéias são parecidas com as da Ciência moderna, que, através dos grandes avanços da Teoria da relatividade, e juntamente com observações astronômicas que nos mostram a expansão do Universo, levou-se a concluir que:
1) A matéria do Universo estava mais concentrado no passado;
2) Que cerca de 15 bilhões de anos o Universo estava concentrado num ponto (singularidade, na linguagem matemática, que significa que toda a matéria do Universo, em forma de energia, estam num ponto de volume zero, ou seja, densidade infinita);
3) As equações de Einstein levaram a concluir que, naquela condição limite, a variável tempo passaria a ter que ser tratado como um número imaginário, para podermos resolvê-la);

4) A partir desse ponto o Universo começou a se expandir, onde essa expansão começou, não se sabe ainda porque ela ocorreu, do que a ciência chama Big Bang (grande explosão);A ciência não consegue afirmar o que aconteceu 'antes' do Big Bang. Existem muitas teorias mas nenhuma que possa ser conclusiva.

Maimônides diz inequivocamente no 'Guia' que toda coisa material que viria a existir provém daquilo que foi criado no primeiro instante de Criação. Ou seja, o único momento de criação foi aquele e que tudo que viria a surgir é derivado daquela massa (energia) foi criado no ínfimo momento inicial do Universo.
4)Seres semelhantes ao homem

A passagem de Gênesis V, 3 no qual diz que: 'E Adam, tendo vivido cento e trinta anos, gerou a sua semelhança, segundo sua imagem'. É que, de todos os filhos que Adam teve antes de Seth, nenhum possuía ( o que constitui), em realidade, a forma humana, que é chamada com as palavras imagem e semelhança de Adam, e a qual se refere aquele de que Deus criou a Adam a sua imagem e semelhança. Por isso que se diz: E Adam gerou a sua semelhança, segundo sua imagem, referindo-se a Seth, a quem (Adam) havia instruído e dotado de inteligência, com o qual havia feito alcançar a perfeição humana. Tu sabes que quem não obteve forma, cujo sentido acabamos de expor, não é um homem, e sim um animal com figura humana, ainda que com faculdade que não possuem os demais animais, que é a de fazer todo tipo de danos e produzir males. Porque aplica a reflexão e o pensamento, que estavam destinados a fazer-lhe adquirir uma perfeição a qual não alcançou em todo tipo de artimanhas para produzir males e causa danos: pelo qual, em certo sentido, não é mais que algo que se parece a um homem ou que o imita. Tais eram os filhos de Adam anteriores a Seth; por isso foi dito no Midrash: “Adam, durante os cento e trinta anos que foi reprovado, gerou espíritos, ou seja, demônios; mas quando obteve sua graça, gerou seus semelhantes, ou seja, seja sua semelhança, segundo sua imagem. Isto é o que se tem expresso nas palavras: E Adam, tendo vivido cento e trinta anos, gerou a sua semelhança, segundo sua imagem.”(Guia dos Perplexos Tomo I capítulo VII)
5)A Torah foi escrita na linguagem dos homens.

O Rambam diz que a Torah foi escrita na linguagem do homem comum, em forma de parábolas. Para se ter um pleno conhecimento das passagens das Sagradas Escrituras é necessário o estudo da física, astronomia, matemática. Por isso, complementa, que a falta de um estudo das ciências, levam as pessoas interpretarem ao pé da letra o que diz as escrituras, pois nem todos tem a capacidade de entender as mensagens mais profundas da Torah, como as crianças.

Santo Agostinho, diz em sua obra, As Confissões, algo similar:"O estilo usual das Escrituras leva em conta as limitações da linguagem humana, quando dirigida a homens de compreensão limitada."e"... existem por vezes distintas interpretações das Sagradas Escrituras, sem que isso represente qualquer prejuízo para a fé querecebemos. Nestes casos não devemos assumir posições demasiadamente firmes de um dos lados, pois poderemos ficar em situação difícilquando a busca pela verdade demonstrar que a posição que assumimos estava incorreta. Isso teria sido lutar, não pelo ensino das Sagradas Escrituras mas por nós próprios. " (De Genesi ad Litteram)

Maimônides chama a atenção sobre o sentido simbólico do nomes de Caín, Abel e Shet e sobre a alegoria que encerra o relato bíblico. Alguns comentaristas bíblicos relacionam os três filhos de Adam aos símbolos das diferentes faculdades da alma racional. Caín representa a faculdade das artes práticas, necessárias para a conservação do corpo, e das quais a agricultura é uma das principais. O nome 'Caín' que põe em relação com o verbo 'caná' (adquirir), significa 'aquisição', 'posse'. Abel representa representa a reflexão que é ação do ponto de vista moral. O nome 'Abel' que significa vaidade, indica a faculdade da reflexão, ainda que superior as artes práticas, é coisa vã e perecedora. Pois só o que do homem sobra depois da morte é somente apenas a inteligência, representada por Shet que, entre os filhos de Adam, era o único que se assemelhava a seu pai, criado a imagem e semelhança de D'us, como disse anteriormente.
6)Sobre os seres que viveram com Adam

O Talmud (Eruvim 18A) fala sobre o nascimento de Shet, terceiro filho de Adam e Eva, analisando porque a Torah relata duas vezes seu nascimento.“E tornou Adam a conhecer sua mulher, e ela deu a luz um filho a quem chamou Shet” (Bereshit 4:25).“E viveu Adão 130 anos, e ele teve um filho à sua semelhança e forma. Ele o chamou de Shet” (Bereshit 5:3).Segundo o Talmud, estes dois versos revelam que, após o assassinato de Abel por Caim, Adam e Eva se separaram maritalmente por 130 anos, e somente então Adam deitou-se “novamente” com Eva. Duranteestes 130 anos, Adam procriou filhos com outros seres, não com Eva. O Radak comenta que esses filhos eram de fato crianças. Faltava-lhes, no entanto, a neshamá, a alma, para torná-los seres humanos.Maimônides descreve estas crianças como sendo seres humanos em forma e inteligência, mas nada humanos em espiritualidade, como falamos mais acima.
7)Perceber D'us por meio de suas obras.

No capítulo XXXIV, Tomo I, do Guia, o Rambam fala sobre como podemos perceber a D'us. Maimônides escreveu:" Não nenhum meio de perceber a D'us se não pelas suas obras; são elas que indicam sua existência e o que a que crer a respeito dele (...). É prioridade , que examinemos todos os seres em sua realidade para que de cada ramo da ciência possamos tirar princípios verdadeiros e certos que nos sirvam em nossas investigações metafísicas. Quantos princípios não se extraem da natureza dos números e das propriedades das figuras geométricas, princípios pelos quais somos conduzidos a conhecer certas coisas que devemos apartar da Divindade, e cuja negação nos conduz a diversos assuntos metafísicos! E quanto as coisas da astronomia e da física, não penso que há dúvida à ti duvida alguma de que sejam necessárias para compreender a relação do universo com o governo de D'us, tal como a relação é em realidade e não conforme a imaginamos."
8)O que impede o homem conhecer a verdade.

No Guia, Tomo I , capítulo XXXI, fala sobre o as divergências de opiniões entre os homens e por quais motivos as mantém. As causas para o desacordo são:1)As pretensões ambiciosas e rivalidades que impedem ao homem perceber a verdade tal como ela é;2)A sutileza da coisa perceptível em si mesma, sua profundide e dificuldade de percebê-las;3)A ignorância do que percebe e sua incapacidade de alcançar aindo do que é possível alcançar;4)O costume e a educação, porque está na natureza do homem amar e ser atraído ao que lhe é familiar.O homem ama as opiniões que lhe são familiares e nas quais foi criado, fica presa à elas e teme as que estão fora. Pelo mesmo motivo o homem fecha os olhos a percepção das verdades e se inclina a seus hábitos, como ocorre com o vulgo sobre as questões de corporidade e de muitas coisas metafísicas. Isto tudo a respeito da forte influência sobre a maioria dos homens exercem a leitura dos livros religiosos e o hábito de tomar literalmente as palavras da Escritura que usam imágens e alegorias. O Rambam diz que esta causa de erro só existe entre aqueles que crêem na autoridade dos livros sagrados e que professam uma religião revelada por D'us. Contudo, esta fonte de erro também existia entre os gregos, porque o povo admitia a verdade das fábulas mitológicas. Aristóteles mesmo fala em diferentes passagens do poder do hábito e das crenças, que são, as vezes, um obstáculo para o conhecimento da verdade.
9)Dogmas necessários para a ordem social

No Guia, Tomo III, capítulo XXVIII, diz que: "A Lei nos convidou igualmente a crer que cuja crença é necessária para a boa organização do estado social, como, por exemplo, a crença de que D'us se irrita muito contra os que desobedecem e que o objetivo é teme-lo, respeitá-lo e evitar desobedecê-lo." O fim de todos os mandamentos, sejam positivos, sejam negativos, têm por objetivo fazer cessar a violência recíproca fixar bons costumes que conduzem a boa relações sociais ou a inspirar uma idéia verdadeira que é necessária admitir por ela mesma.

Na visão de Spinoza, a maioria da população não está preparada para compreender todas as coisas corretas e entendê-las de forma racional. Por isso, diz ele, Moisés ao dar leis ao povo, colocou de forma de que se as pessoas não a fizessem, D'us ficaria irritado, pois muitas pessoas não fazem o Bem pelo prazer de fazer o Bem, e sim com medo de receber o mal.
10)Palavra atribuída à D'us.
No capítulo LXV, Tomo I, Maimônides explica o que significa palavra atribuída à D'us. O Rambam diz que é necessário excluir de D'us o atributo da palavra. Sempre que os verbos 'dizer' e 'falar' são atribuídos a D'us designam vontade e intenção de D'us. Quando ele se refere a 'dizer' designam vontade e não a 'palavra' é que somente a palavra só pode ser dita a um ser capaz de receber ordens. Como está escrito nos Psalmos XXXIII, 6: " Os céus foram feitos pela palavra do S'nhor." Da mesma maneira como sua boca e o sopro de sua boca são uma metáfora e querem dizer que foram feitas por sua intenção e vontade.Todas as obras da Criação saíram do nada em virtude da palavra divina. Por outro lado, não existia nenhum ser a quem esta palavra pudesse dirigir-se e as palavras "D'us disse" não podem significar outra coisa que não seja "D'us quis".
11)Atributos negativos de D'us

Rambam fala no 'Guia' (Tomo I, capítulo LVII) a existência e a essência de D'us são a mesma coisa, que não podem ser separadas uma da outra. Não caberia fazer uma delas o atributo da outra. Para Maimônides não se pode atribuir a D'us como atributo a existência e que D'us não pode ser definido e, por conseguinte, nenhum atributo senão a sua essência.D'us é o ser necessário, o qual não composição. Só alcançamos d'Ele que é, pelo que não é. Não se pode admitir, portanto, que tenha atributos afirmativos, pois não existe ser fora de sua essência. Com razão não cabe que sua essência seja composta, de maneira que o atributo indique duas partes e com maior razão, todavia, não pode ter movimento que possam ser indicado pelo atributo. No há, então, como dar a D'us atributos afirmativos.Para isso o Rambam cita Eclesiastes (Kohelet) V,1: "Pois D'us está no céu e tu na terra, que suas palavras sejam pouco numerosas."

Santo Agostinho (século V) tem a mesma opinião: é impossível para o homem uma definição da natureza de D'us e que é mais fácil saber aquilo que Ele não é do que aquilo que Ele é: "Quando se trata de D'us, o pensamento é mais verdadeiro do que a palavra e a realidade de D'us mais verdadeira do que o pensamento." E santo Agostinho diz: "Concebemos D'us bom sem qualidade, grande sem quantidade, criador sem necessidade, o primeiro lugar sem colocação, contendo todas as coisas mas sem exterioridade, todo presente em toda parte mas sem lugar, sempiterno sem tempo, autor das coisas mutáveis mesmo permanecendo absolutamente imutável e sem sofrer qualquer coisa."
12)Linguagem dos Profetas.
Em Isaíah XIII, 10 está escrito: "Pois as estrelas dos céus e suas constelações não mais emitirão suas luzes e o Sol escurecerá desde sua saída, e a Lua não fará resplandecer sua claridade". E Isaíah também diz, na mesma descrição: " Por isso extremesserás os céus e a Terra será removida de seu lugar pelo furor de Yhwh Shabaoth, e no dia de sua queimante cólera." Maimônides não pensa que há um só homem em quem a ignorância, a cegueira, a sujeição do sentido literal da metáforas e das expressões oratórias tenha chegado ao ponto de que as estrelas do céu e a luz do Sol e da Lua tenham sido alterados quando ocorreu a ruína da Babilônia. Ou que a Terra tenha saído de seu centro , como expressa o profeta ao se tratar da descrição do estado de um homem posto em estado de fuga, que, sem dúvida, vê toda a luz escurecida, encontra toda doçura amarga e imagina que a Terra lhe é demasiado estreita, e que para ele o céu está encoberto.Logo, ao descrever a tranquilidade que gozavam os israelitas quando Senaquerib tenha perecido, a fertilidade e o repovoamento de suas terras e a tranquilidade de seu reino baixo Ezequiah, disse alegoricamente que a Luz do Sol e da Lua aumentaram. Assim, como se tem dito que a Luz do Sol e da Lua se retiram e transformam em sombras com respeito ao vencido, assim a luz dos astros aumenta para o vencedor. Sempre se encontrará que quando ocorrer a um homem uma grande desgraça, seus olhos se escurecem e a luz parece não ter mais o mesmo brilho, porque o espírito visual se turva pela abundância de vapores e, ao mesmo tempo, se debilita e diminui por causa da grande tristeza e pelo extremecimento da alma. Na alegria, ao contrário, quando a alma se deleita e o espírito visual se aclara, o homem vê, em certo modo, a Luz mais forte que antes.
13)Milagres

Quando se fala em milagres, muitos pensam que são eventos que ocorrem, devido a uma vontade momentânea de D'us, e que Ele interfere o andamento do Universo, com eventos fora das leis da Natureza.Na visão de Maimônides, a qual concordo, é de que os milagres não são eventos fora das leis da Natureza, pois, a vontade de D'us é Única, Eterna e Imutável. E que os eventos da natureza que parecem extraordinários no referencial humano, são eventos já consequentes do Universo primordial criado por Ele, devido que único momento ocorreu criação foi nos primórdios do Universo e que depois, foram combinações de tudo o que foi criado naquele ato inicial e que depois tudo o veio a surgir foi formado. E D'us criou tudo segundo sua natureza. E como sabemos, a natureza, a essência e a vontade de D'us são a mesmíssima coisa.Spinoza tem opinião similar. Ele diz que os milagres não transgridem as leis da Natureza devido a uma vontade momentânea de D'us. Os milagres, segundo Spinoza, são acontecimentos naturais que não ocorrem com a mesma intensidade que os demais fenômenos e, por isso, segundo a visão de muitas pessoas, parecem fenômenos supra-naturais.
14) "Pensamento" e "vontade" atribuídos à D'us

Que em D'us, 'saber' significa o mesmo que 'viver', pois todo ser que percebe a si mesmo está dotado de vida e de ciência ( tomadas aqui em um só e mesmo sentido). Assim se entende por 'ciência' a percepção de si mesmo. A vida e a ciência são, em D'us, a mesma coisa. O 'poder' e a 'vontade' não existem tão pouco no Criador por relação a sua essência; pois não exerce sobre si mesmo, e não pode atribuir uma vontade que se tenha a si mesmo por objeto, coisa que nada poderia figurar.D'us, o Altíssimo, é o Ser necessário, o qual não há composição. Compreendido que nesse Ser, tal como é, não há, por exemplo, uma existência dos elementos, que são corpos inanimados, dizemos que é 'vivente', o que significa que D'us não carece de vida. Compreendido, logo, que não sucede com esse Ser como a existência do intelecto, que, ainda que, não seja um corpo, nem carece de vida, é , sem dúvida, produzido por uma causa, dizemos que D'us é eterno, o que significa que não tem causa que O fez existir. Logo compreendemos que a existência desse Ser, que é sua essência, não só lhe basta para ele existir,ou ele mesmo, senão que, ao contrário, dele emanam numerosas existências atribuímos a D'us a potência, a ciência e a vontade, querendo dizer que com esses atributos que D'us não é nem impotente, nem ignorante, nem negligente. Se declaramos que não é impotente, isto significa que sua existência basta para fazer existir coisas distintas dele.Nossas inteligências são demasiado débeis para compreender as leis da Natureza, entender os acontecimentos astronômicos. O que será de nossas inteligências ao se tratar de alcançar Aquele que está isento de matéria, que é de uma simplicidade extrema, Ser necessário que não tem causa e que não está afetado por nada acrescentado a sua de sua essência perfeita, cuja perfeição significa, para nós, negação de imperfeições. Que D'us governa os seres e os mantém em sua ordem.

"Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, vossos caminhos não são os meus, disse o Eterno; pois, assim como os céus que se encontram por cima da terra, assim meus caminhos estão por cimas dos vossos caminhos e meus pensamentos por cima de vossos pensamentos." (Isaiah, LV, 8-9)E assim Maimonides sintetiza seu pensamento: Assim como, sem compreender a verdadeira essência de D'us, sabemos, sem dúvida seu ser é o ser mais perfeito, que não se fala de nenhuma maneira afetado de imperfeição nem de mudança nem de paixão, assim, sem compreender o que sua ciência é na realidade, posto que ela é sua essência, sabemos, sem dúvida, que não ou saber ou ignorar. Quero dizer, que não pode sobrevir-lhe nenhuma ciência nova, que sua ciência não pode ter multiplicidade nem fim, que nenhuma das coisas existentes ser-lhe desconhecida e que o conhecimento que tem das coisas deixa intacta a natureza delas mesmas, conservando o possível a natureza da possibilidade. Se há no conjunto destas proposições algumas que parecem contradizer, é porque as julgamos com nossa ciência, que não tem nada em comum com a ciência de D'us, exceto pelo nome. Igualmente, a palavra 'intensão' se aplica, por simples homonomia, ao que temos em vista e ao que disse que D'us tem em vista. Assim, finalmente, a palavra 'providência' se aplica, por homonomia, ao que nos preocupa e ao que se preocupa a D'us. Por tanto, a verdade é que a 'ciência', a 'intensão' e 'providência' atribuídos a nós não tem o mesmo sentido quando atribuídos a D'us. Quando se utilizam , pois, em um só e mesmo sentido as da providências, as da ciência ou das intensões, sobreveêm as dificuldades e nascem das dúvidas do temos falado. Mas, a verdade se torna clara quando se atribui a D'us. A diferença que há entre as coisas atribuídas a D'us e as mesmas coisas atribuídas a nós, se há enunciado claramente com estas palavras: Vossos caminhos não são os meus, como tinhamos dito.
15) D'us, o Ser Necessário
D'us é o Ser de existência necessária. Como poderíamos atribuir relação entre dois seres, um não tem nada em comum com que está fora dele. Pois, segundo a opinião de Maimônides que também é a minha, só por mera homonomia se aplica a palavra 'existir' ao mesmo tempo a D'us e ao que está fora D'Ele. Então não há relação, na relidade, absolutamente nenhuma entre D'us e suas criaturas, pois a relação não pode existir senão entre coisas que sejam necessariamente a mesma 'espécie próxima'.Que em D'us, 'saber' significa o mesmo que 'viver', pois todo ser que percebe a si mesmo está dotado de vida e de ciência ( tomadas aqui em um só e mesmo sentido). Assim se entende por 'ciência' a percepção de si mesmo. A vida e a ciência são, em D'us, a mesma coisa. O 'poder' e a 'vontade' não existem tão pouco no Criador por relação a sua essência; pois não exerce sobre si mesmo, e não pode atribuir uma vontade que se tenha a si mesmo por objeto, coisa que nada poderia figurar.D'us, o Altíssimo, é o Ser necessário, o qual não há composição. Compreendido que nesse Ser, tal como é, não há, por exemplo, uma existência dos elementos, que são corpos inanimados, dizemos que é 'vivente', o que significa que D'us não carece de vida. Compreendido, logo, que não sucede com esse Ser como a existência do intelecto, que, ainda que, não seja um corpo, nem carece de vida, é , sem dúvida, produzido por uma causa, dizemos que D'us é eterno, o que significa que não tem causa que O fez existir. Logo compreendemos que a existência desse Ser, que é sua essência, não só lhe basta para ele existir,ou ele mesmo, senão que, ao contrário, dele emanam numerosas existências atribuímos a D'us a potência, a ciência e a vontade, querendo dizer que com esses atributos que D'us não é nem impotente, nem ignorante, nem negligente. Se declaramos que não é impotente, isto significa que sua existência basta para fazer existir coisas distintas dele.
16)A existência de D'us.

Maimônides deixa claro que essa não é uma verdade que possamos conhecer somente pela fé, ela é acessível às luzes de nossa razão. Basta pensar com um pouco de sensatez para perceber que D'us criador existe. Não é, pois, primariamente, assunto de fé, senão de honradez intelectual. E, seguindo o filósofo árabe Avicenna, raciocina assim: Temos experiência que todas as coisas neste mundo começam e acabam; e assim elaboramos a noção de 'ser contingente'. Um ser é contingente quando existe, o que se adverte, porque alguma vez deixará de existir; existe de fato, mas não de direito. Isso significa que seu 'existir' não lhe pertence por natureza. De modo que todos os seres contingentes têm a existência recebida; o que equivale a dizer que não existem por si mesmos, a não ser por outro. E sendo essa condição igual para todos, nenhum ser contingente existiria se não houvesse um Ser necessário, isto é, aquele cuja natureza 'é' o existir mesmo, de modo que não tenha recebido, nem o 'tenha', a não ser que 'é'. Este ser 'não pode não existir', sua inexistência é impossível, por isso o chamamos de Ser necessário: ele é o 'ser por essência', D'us mesmo. A razão nos ensina que não poderia haver seres contingentes sem um Ser Absoluto ou Necessário, mas há seres contingentes, logo Absoluto existe!
17)Satã

Tudo que é emanado diretamente da vontade do Criador é o bem e D'us jamais é o autor direto do mal. Só acidentalmente e indiretamente o mal pode ser atribuído a ação divina. A matéria em si criada por D'us não é absolutamente um mal, mas a fonte do mal é a privação que é inerente e que é causa da corrupção. No livro de Job, temos que entender por filhos de D'us, o bem que D'us tido diretamente em vista na criação. Satã , pelo contrário representa a privação , fonte acidental do mal.Maimônides explica que, Satã, que representa a privação, pode ser considerado, por um certo ponto, como uma finalidade direta da criação, posto que o nascimento e a corrupção , que o criador teria por finalidade no mundo sublunar, só têm lugar a consequência da privação, que é inerente à matéria e que, por conseguinte, desempenha um papel importante nas coisas aqui de baixo do mundo sublunar. Satã, ou a privação que depende o mal, tem pois, em certo modo, o direito de apresentar-se diante do Eterno.Os seres superiores, únicos representantes do bem absoluto, são estáveis e duradouros, e não estão submetidos ao nascimento e nem a corrupção. Mas Satã também ocupa uma posição no mundo sublunar, já que Satã só tem relação com o mundo sublunar. No relato do livro de Job, diz que Satã errava sobre a terra, e que as coisas da terra sob seu poder, mas que estava vedado a ele apoderar-se da alma (nefesh).Satã vem da vocábulo satán, que significa apartar, separar. Indubitavelmente, Satã significa o que aparta dos caminhos da verdade e faz que alguém se perca nos caminhos do erro.Bem, a má inclinação é Satã, a qual indubitavelmente é um anjo, pois se fala no número de filhos de D'us; a boa inclinação em realidade também é um anjo. Assim, pois, cada pessoa está acompanhada de dois anjos, um a sua direita e outro a sua esquerda, que tratam da boa e má inclinações, respectivamente. A boa inclinação e a má inclinação derivam da faculdade da alma.
18)O mal

D'us jamais é o autor direto do mal. Só acidentalmente ou incidentalmente o mal pode ser atribuído a ação divina, enquanto produzida a matéria, que está associada a privação e que, por isso, se transforma na causa da corrupção e do mal. Enquanto D'us produz a matéria com a natureza que lhe é própria, ou seja de estar sempre associada a privação. Toda destruição, corrupção ou imperfeição só existem por causa da matéria. Os males só são males em relação a certa coisa. O mal não tem existência real.Atribuir a ação divina às privações, tais como mudez, surdez e cegueira só como expressão figurada que significa que D'us, por uma ação indireta, faz cessar as capacidades de falar, de ouvir e de ver. No homem, por exemplo, a morte é um mal. Também sua enfermidade, sua pobreza, sua ignorância são males em relação a ele, o homem.Em Bereshit I, 31 está escrito: "E D'us viu tudo o que tinha feito, e era bom." Rabbi Meir diz: "E a morte é um bem." (Bereshit Rabba, seção IX, fol. 7, col 3). Rabbi Meir provavelmente ao querer vincular esta passagem uma reflexão moral sobre a morte, que conduz a vida futura.Muitos homens acham que o mal é mais frequente no mundo do que o bem. A causa deste erro , diz Maimônides, é que estes homens consideram o universo senão apenas ao indivíduo humano. Homens assim pensam que o Universo só existe para sua pessoa, como se não existissem outros seres nele. Se ocorre algo fora dos seus desejos, julgam que isso é um mal. Mas se o ser humano olhar ao seu redor e ver toda a grandiosidade do Universo e ver que ele, o homem, é tão pequeno o lugar que ocupa nele, a verdade se tornará clara, evidente. O homem não deve se enganar e crer que o Universo só existe para sua pessoa.

Quando digo acima que Satã só tem relação com o mundo sublunar, a nomenclatura a usada na época de Maimônides, pois a idéia vigente sobre mundo era o modelo geocêntrico, onde a terra era o centro do Universo e que o mundo sublunar era o mundo terrestre.

Muitas pessoas tem a opinião errônea de que Satã é a personificação do mal e que este rivaliza com D'us. Como expus, Satã está associada a privação. E também disse que D'us é o agente de todo o bem e tudo que foi criado. Como D'us criou a matéria, a privação é algo inerente a natureza da matéria. Satã é um anjo, mas está num ranking menor do que os outros anjos, filhos de D'us e, muito menos rivalizar com D'us.O mal existe apenas em relação a alguém. Quando ocorre uma privação, por exemplo, a privação de audição para o homem isso é um mal. Para D'us, que está isento de privações, que é eterno e toda perfeição, para Ele não existe o mal.
18) OS 13 PRINCÍPIOS DE FÉ

1)Creio plenamente que D’us é o Criador e guia de todos os seres, ou seja, que só Ele fez, faz e fará tudo.
2)Creio plenamente que o Criador é um e único; que não existe unidade de qualquer forma igual à d’Ele; e que somente Ele é nosso D’us, foi e será.

3)Creio plenamente que o Criador é incorpóreo e que está isento de qualquer propriedade antropomórfica.

4)Creio plenamente que o Criador foi o primeiro (nada existiu antes d’Ele) e que será o último (nada existirá depois d’Ele).

5)Creio plenamente que o Criador é o único a quem é apropriado rezar, e que é proibido dirigir preces a qualquer outra entidade.

6)Creio plenamente que todas as palavras dos profetas são verdadeiras.

7)Creio plenamente que a profecia de Moshê Rabeinu é verídica, e que ele foi o pai dos profetas, tanto dos que o precederam como dos que o sucederam.

8)Creio plenamente que toda a Torá que agora possuímos foi dada pelo Criador a Moshê Rabênu.

9)Creio plenamente que esta Torá não será modificada e nem haverá outra ortorgada pelo Criador.

10)Creio plenamente que o Criador conhece todos os atos e pensamentos dos seres humanos, eis que está escrito: "Ele forma os corações de todos e percebe todas as suas ações" (Tehilim 33:15). 11)Creio plenamente que o Criador recompensa aqueles que cumprem os Seus mandamentos, e pune os que transgridem Suas leis.

12)Creio plenamente na vinda do Mashiach e, embora ele possa demorar, aguardo todos os dias a sua chegada.

13)Creio plenamente que haverá a ressurreição dos mortos quando for a vontade do Criador.
20) A influência de Rambam nas gerações posteriores.
Maimônides guiado pela filosofia de Aristóteles, tentou fazer do hebraísmo seu sistema coerente de pensamentos. Sua filosofia influênciou pensadores posteriores à ele. Dela extraíram-se ensinamentos da filosofia religiosa judaica dos séculos XIII e seguintes. Também se encontram rastros da influência do Rambam na escolástica cristã. Igualmente, no âmbito do pensamento não declarado se comprova uma considerável influência de idéias de Maimônides. Para medirmos o grau de significação de Maimônides no desenvolvimento do pensamento cristão, e para qualquer estudo sério das doutrinas de Tomás de Aquino e Alberto Magno. Através de cinco séculos que alimentaram a modelação de filosofia de Spinoza. Também inspirou Isaac Newton em seus pensamentos teológicos. O interesse de Newton por Maimônides é documentado. Possuia em sua biblioteca obras de Maimônides em latim e centenas de anotações que o citam.

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