sábado, 15 de novembro de 2008

Autoridades religiosas X autoridade natural

Autoridades religiosas X autoridade natural



Nos ramos do conhecimento humano, as que estão muito afastadas são a religião (teologia) e a ciência (física, química e biologia) e a filosofia.

A distância entre a ciência e a teologia se acentuou nos séculos XVI e XVII com o avanço das descobertas e observações astronômicas e as teorias a partir destas, com Galileu Galilei, Johannes Kepler que perceberam que o sistema geocentrico (Terra no centro do Universo) de Ptolomeu, adotado pela Igreja, não condizia com a verdade. Galileu foi obrigado a abjurar de suas idéias e ficou em prisão domiciliar até sua morte. Em 1600, Giordano Bruno (que foi mais ousado, ao dizer que nem mesmo o Sol era o centro do Universo, e que este era infinito e afirmou que existem outros sóis e estes eram orbitados por planetas habitados) foi queimado vivo pela Inquisição. Como vimos, as evidências não eram levadas em consideração, quem dizia o que era “verdade” e “certo” eram as autoridades eclesiásticas.

Então, qual a diferença entre as autoridades religiosas e a autoridade natural?
Primeiramente, as autoridades religiosas não se valem de demonstrações, e sim da imposição de um conselho. Se voltarmos no 1º século da era comum (era cristã), não existia uma bíblia como a conhecemos hoje. O que havia eram vários textos, de autores, de sábios (rabinos) e avaliavam quais textos seriam “inspirados por D'us”. Muitos textos foram descartados por não apresentarem uma sincronia com a Torah, e não passaram pelo crivo sacerdotal, e ficaram de fora do canone hebraico. Por tanto, quem decidiu quais textos eram inspirações foram as autoridades estabelecidas. O mesmo ocorreu no século III, quando Constantino se converteu ao cristianismo e, consequentemente, o Império Romano, escolheram qual seria seu canone e discartaram todas as outras correntes que divergiam da adotada pelo seu Império.
Na época de Galileu, o que valia a palavra da Igreja, quer dizer do Papa. Os dogmas, de qualquer religião, não são passíveis de discussão. O dogma da concepção virgem de Maria só foi posta no final do século XIX, após o Papa ter a “iluminação” de que isso condizia com a verdade irrevogável.

A ciência (física, química e biologia) não tem como autoridade um homem, um papa ou um conselho, que vai dizer o que é certo ou errado. A autoridade, para a ciência, é a própria Natureza. Como bem escreveu Werner Heisenberg, um dos pais da Mecânica Quântica, em seu livro “Física e Filosofia”: “(...) Há uma característica da ciência que a torna mais apropriada do que qualquer atividade para criar a primeira ligação sólida entre tradições culturais e diferentes. Esse tributo reside no fato de as decisões últimas, acerca do valor de um determinado trabalho científico sobre o que esta correto ou incorreto no trabalho em questão, não dependem de qualquer autoridade humana. Pode, às vezes, ocorrer, que muitos anos se passem até que se conheça a solução de um problema, antes que se possa distinguir entre verdade e erro; mas, em definitivo, as questões dicidir-se-ão e as decisões, a essa respeito, não serão tomadas por um grupo qualquer de cientistas mas sim pela própria Natureza.(...)”

Os líderes religiosos arrogando-se de que foram “escolhidos por D'us”, que Ele lhes falam e decidem , segundo seus interesses, o que é verdade ou não, ao contrário da ciência que, quem decide o que é certo ou errado é a Natureza, ou seja, o próprio D'us.

Na época de Galileu, falava-se de duas modalidades de revelação de D'us: uma estava inscrita na Bíblia e a outra encontrava-se no livro da Natureza. As Santas Escrituras foram escritas pelo homem e, assim, estavam sujeitas a erro, enquanto que a Natureza era a expressão diretas das intenções divinas. E como escreveu Uriel da Costa que “D'us , como autor da Natureza não poderia estar em contradição consigo mesmo”. Por isso que, os adeptos da ciência natural podem argumentar que as experimentações revelam uma verdade inegável; que não se pode admitir que qualquer autoridade humana arrogue-se ao direito de decidir o que realmente ocorre na Natureza e que, a decisão final a respeito cabe a Ela e, nesse sentido, a D'us.

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