A prática do bem
A prática do bem é pregada por todas as seitas, segmentos religiosos e que, tais práticas nos trarão recompensas futuras, seja nesta vida ou numa possível existência pós-morte. Dizem os pregadores: "D'us está olhando os seus atos. Ele te recompensará." O que podemos notar que as boas ações praticadas pelas pessoas seguidoras de tais religiões apenas o fazem por ser uma obrigação religiosa e outros de forma interesseira ou por causa de medo. Interesseira porque espera recompensas numa melhoria na qualidade de vida, no aspecto material, ou ir para o paraíso. E outros, fazem o bem para fugir do mal, com medo de castigos. Em ambos os casos, não são atitudes sinceras. Não há o prazer da prática das virtudes.
"A recompensa da virtude é a virtude em si mesma." como disse Spinoza. Na mesma linha, Maimônides considera que a fé em D'us deve ser totalmente desinteressada, ou seja, não esperar nenhuma recompensa e, acrescentemos, nenhum castigo por suas ações. O exercício da justiça, da verdade e do amor ao próximo constituem, por si sós, sua recompensa. Mas, infelizmente, muitos não conseguem ver, pela luz da razão, que respeitar o próximo, não cometer crimes contra os semelhantes são fundamentais para a felicidade e a harmonia social. Uriel da Costa, em seu "Exemplo da vida humana" que é uma lei natural e que aquele que não gostam o que façam consigo não vai fazer contra os outros. Mas para os indivíduos que não são capazes de enxergar isso, é aceitável a fé interesseira, ou seja, a fé daquele que crê na recompensa por suas boas ações e no castigo pelas más, única forma de fé acessível ao comum das pessoas. O homem em busca da verdade deveria se esforçar e, no limite de seus recursos, procurar aproximar-se da fé desinteressada.
Para expressar bem o ideal de pensamento, segue duas passagens da personagem Branca, da obra "O Santo Inquérito" de Dias Gomes, após salvar o padre de um afogamento. Ela, posteriormente, seria acusada como herege e morta na fogueira, por acusação de heresia.
"Acho que as boas ações só valem quando não são calculadas. E D'us não deve levar em conta aqueles que praticam o bem só com a intenção de agradar-lhe."
"Não foi querendo agradar a D'us que eu me atirei ao rio pra salvá-lo. Foi porque isso me deixaria satisfeita comigo mesma. Por que era um gesto de amor ao meu semelhante. E é o amor que a gente se encontra com D'us. No amor, no prazer e na alegria de viver."