sábado, 25 de abril de 2009

Que viva a sociedade Sanitária!‏

QUE VIVA A SOCIEDADE SANITÁRIA




Dr. Eraldo Bulhões
Diretor do SinMed/RJ


Se a Vigilância Sanitária está adormecida não sabemos, mas somente a
vigilância sanitária não adianta. Carecemos de uma consciência geral:
uma sociedade sanitária. Consciência essa que já vem crescendo em
relação ao tabagismo, alcoolismo, a poluição, dengue, febre amarela,
as doenças infecciosas, drogas etc.

Um dia "D" da dengue é insuficiente. No último que foi realizado um
fato marcante foi a iniciativa do poder público em providenciar a
retirada das carcaças de automóveis da Avenida Presidente Vargas, no
Rio de Janeiro, e acabar com os macro-focos de Aedes aegypti nos
ferros-velhos. Ficamos 60 anos sem o mosquito desde que o sanitarista
Oswaldo Cruz acabou com os grandes focos existentes nas mini-caixas
d'água (vasos de flores) dos cemitérios pondo areia nos recipientes.
Naquela época, a população carente morava em barracões de zinco e
neles as águas das chuvas não se acumulavam. Na década de 60, com as
construções de alvenaria, a infestação recrudesceu em grande escala,
principalmente pelo aumento da população e a aglomeração nas precárias
habitações que acumulam as águas das chuvas em suas concavidades.
O que o Aedes quer? Sangue humano, porque precisa de proteína humana
para amadurecer o embrião do mosquito que contém o vírus.
Os ovos ficam mais de 300 dias em local seco com o embrião aguardando
as águas para eclodir numa temperatura de mais de 40º C. O mosquito
não põe o ovo dentro da água, põe-no em local seco. Faz isso na caixa
d'água, onde se forma um anel acima do nível da água, e nas lajes,
local que habitualmente acumula água, formando até uma mancha
esverdeada (limo). Esse ambiente reduz o ciclo biológico do
transmissor da dengue de 12 para 8 dias.
O Aedes quer água e sangue. A degradação das carcaças de automóveis,
cujos assentos ficam impregnados com o odor dos seres humanos, atrai
os mosquitos. Também as lajes, onde há objetos de todos os tipos e que
acumulam água, são verdadeiros quintais abandonados que propiciam a
proliferação de mosquitos. É necessário oferecer à população uma força
tarefa para ajudar a retirar os entulhos, latas, latões e objetos que
acumulam água nas lajes das habitações inacabadas.
Quando teremos uma política para financiar a melhoria das 700 mil
construções de alvenaria, lajes e habitações inacabadas no Rio de
Janeiro? Isso poderia ser feito através de recursos do BNDES, com a
implantação de captação de energia solar e com a economia propiciada
de 30% dos custos da energia (água quente) e com a redução dos
"gatos", na medida em que haja a regularização das instalações
elétricas (Light). Também ajudaria utilizar o reservatório da água das
chuvas para o uso de jardinagem e limpeza doméstica: a ecologia
contemporânea contra o aquecimento global.
A saída é essa. O governo deve fazer a sua parte e retirar a
degradação, ajudando a recuperar as habitações inacabadas sem
criminalizar a dona de casa, vista hoje como vilã, afinal, os
moradores já tiraram as águas dos vasos e não têm pneus dentro de
casa.
As autoridades assumem uma postura autoritária ao tentar vender a
idéia de que a população precisa fazer a sua parte. É preciso entender
que a população paga impostos há anos e que, diante desse quadro, não
deve esperar pela vigilância sanitária, pois está provado que ela é
insuficiente. É importante a conscientização de todos para a
necessidade de criarmos uma sociedade sanitária, que assuma o controle
social também da vigilância sanitária.


Atualmente a crise da saúde chegou aos mais elevados patamares da
Medicina no capítulo da Propedêutica Médica e dos conceitos da Saúde
Pública no que tange à definição de ingresso do paciente no Sistema de
Atendimento, conceituado como Porta de Entrada. O conceito de Porta de
Entrada não é simplesmente o registro da pessoa, até aí não podemos
dizer que o paciente ingressou no Sistema. Os fundamentos da
Propedêutica Médica nos levam à Porta de Entrada quando estabelecido o
registro da pessoa, a anamnese (30 minutos), o exame físico (30
minutos), a suspeita diagnóstica, os exames complementares, o
diagnóstico e o prognóstico. Neste momento se consolida, do ponto de
vista do atendimento, a conceituada Porta de Entrada do paciente no
Sistema. A população não pode só assistir a esta situação sem se
organizar em todos os níveis, desde o controle social, e
principalmente na conscientização de todos os cidadãos por uma
sociedade sanitária ativa. Diante da Síndrome do Esgotamento
Profissional estamos assistindo à morte da Porta de Entrada, da
anamnese, do exame físico, da suspeita diagnóstica, do diagnóstico e
do prognóstico.
Determinadas patologias como a dengue, meningite etc., se a Porta de
Entrada não for pelos parâmetros da Propedêutica Médica, podem ser
fatais, no caso da dengue, num período de 10 dias. A população deve
conhecer a fundo a crise da saúde em todo o seu contexto e se
conscientizar da importância da vigilância através da busca da
sociedade sanitária, no trabalho, nas escolas e na comunidade.
No Fórum Econômico Mundial em DAVOS, na Suíça foi premiado o
cientista que criou o Aedes transgênico para competir através do
controle biológico e eliminar o Aedes aegypti natural em médio prazo.
A Sociedade Sanitária deve barrar esta experiência laboratorial
transgênica, pois não se sabe as conseqüências futuras desta
iniciativa.

Em 1981 na epidemia de Dengue em Cuba (cepa 1 e 2)
houve 146.000 internações, 24.000 casos de dengue hemorrágico, 10.000
casos de síndrome do choque da dengue, 158 mortes, a maioria crianças.
Essa epidemia é semelhante ao quadro que está ocorrendo no Rio. Não
há inverno para dengue na cidade. A situação é grave, a perspectiva é
de ter milhares de casos que podem até passar de 200 mortes sendo dois
terços em criança. Nestes anos temos combatidos as orientações do
município que orientam às pessoas com sangramento a acorrerem a um
hospital em uma doença que mata em 10 dias, sem valorizar a febre. A
nossa orientação é dar ênfase à febre. E na dengue a equação é: "febre
é igual a hemograma >Plaquetas, hematócrito, vhs no 1º e 4º dias" e
não dar alta após a febre, no que chamamos a curva da morte .Plaquetas
abaixo de 50.000 hidratação venosa.
Os meios de comunicação são vítimas da orientação
oficial, e desconhecem que o mosquito não põe ovos em água parada
mas em local seco, pois precisa de calor para a eclosão dos ovos onde,
em seguida, o embrião cai na água. Isto faz grande diferença porque
em uma laje os ovos são depositados nos locais aonde já teve água
(mancha esverdeada) e fica aguardando por até 300 dias pelas chuvas.
A miopia epidemiológica não enxerga esta situação e os macros focos
continuam com milhões de ovos nas habitações inacabadas.

Temos que fazer o PAC da dengue reformando as
habitações inacabadas, verdadeiras mansardas do Aedes aegypti.



Rio de janeiro, 20 de fevereiro de 2008


Dr.Eraldo Bulhões
Martins médico – clinico geral

terça-feira, 21 de abril de 2009

Os telefonemas do Big Brother Brasil

Os telefonemas do Big Brother Brasil




(*)José Nêumanne Pinto


Vinte e nove milhões de ligações do povo brasileiro votando em algum candidato para ser eliminado do Big Brother. Vamos colocar o preço da ligação do 0300 a R$0,30.
Então, teremos R$ 8.700.000,00. Isso mesmo! Oito milhões e setecentos mil reais que o povo Brasileiro gastou só nesse paredão. Suponhamos que a Rede Globo tenha feito um contrato "fifty to fifty" com a operadora do 0300, ou seja, ela embolsou R$ 4.350.000,00. Repito, somente em um único paredão...".
Alguém poderia ficar indignado com a Rede Globo e a operadora de telefonia ao saber que as classes menos letradas e abastadas da sociedade, que ganham mal e trabalham o ano inteiro, ajudam a pagar o prêmio do vencedor e, claro, as contas dessas empresas. Mas o "x" da questão, caro(a) leitor(a), não é esse. É saber que paga-se para obter um entretenimento vazio, que em nada colabora para a formação e o conhecimento de quem dela desfruta; mostra só a ignorância da população, além da falta de cultura e até vocabulário básico dos participantes e, consequentemente, daqueles que só bebem nessa fonte.
Certa está a Rede Globo. O programa BBB dura cerca de três meses. Ou seja, o sábio público tem ainda várias chances de gastar quanto dinheiro quiser com as votações. Aliás, algo muito natural para quem gasta mais de oito milhões numa só noite! Coisa de país rico como o nosso, claro. Nem a Unicef, quando faz o programa Criança Esperança com um forte cunho social, arrecada tanto dinheiro.
Vai ver deveriam bolar um "BBB Unicef". Mas tenho dúvidas se daria audiência.
Prova disso é que na Inglaterra pensou-se em fazer um Big Brother só com gente inteligente. O projeto morreu na fase inicial, de testes de audiência.
A razão? O nível das conversas diárias foi considerado muito alto, ou seja, o público não se interessaria.
Programas como BBB existem no mundo inteiro, mas explodiram em terras
tupiniquins. Um país onde o cidadão vota para eliminar um bobão (ou uma bobona) qualquer, mas não lembra em quem votou na última eleição. Que vota numa legenda política sem jamais ter lido o programa do partido, mas que gasta seu escasso salário num programa que acredita de extrema utilidade para o seu desenvolvimento pessoal e, que não perde um capítulo sequer do BBB para estar bem informado na hora de PAGAR pelo seu voto. Que eleitor é esse? Depois não adianta dizer que político é ladrão, corrupto, safado, etc.
Quem os colocou lá?
Claro, o mesmo eleitor do BBB. Aí, agüente a vitória de um Severino não-sei-das-quantas para Presidente da Câmara dos Deputados e a cara de pau, digo, a grande idéia dele de colocar em votação um aumento salarial absurdo a ser pago pelo contribuinte.
Mas o contribuinte não deve ligar mesmo, ele tem condições financeiras de juntar R$ 8 milhões em uma única noite para se divertir (?!?!), ao invés de comprar um livro de literatura, filosofia ou de qualquer assunto relevante para melhorar a articulação e a autocrítica... Chega de buscar explicações sociais, coloniais, educacionais. Chega de culpar a elite, os políticos, o Congresso.
Olhemos para o nosso próprio umbigo, ou o do Brasil. Chega de procurar desculpas quando a resposta está em nós mesmos. A Rede Globo sabe muito bem disso, os autores das músicas Egüinha Pocotó, O Bonde do Tigrão e assemelhadas sabem muito bem disso; o Gugu e o Faustão também; os gurus e xamãs da auto-ajuda idem. Não é maldade nem desabafo, é constatação...
(*)José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde e autor de O silêncio do delator, prêmio Senador José Ermírio de Morais, da Academia Brasileira de Letras, em 2005. Clique na capa para ter acesso à livraria virtual.


Fonte: Blog Fantoches nunca mais